quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Falar de André Malraux: ainda o sonho...

capa da edição brasileira de "A Estrada Real"

edição portuguesa de Os Conquistadores (Livros do Brasil), reedição de 2003)

edição brasileira de "A Esperança"


ANDRÉ MALRAUX E O SONHO POSSÍVEL

Nasce em Paris em 3 de Novembro de 1901 e morre em 23 de Novembro 1976, em Paris.

Em 1933, ganha o Prémio Goncourt com o livro La Condition Humaine e torna-se famoso em todo o mundo.
capa (extraordinariamente feliz, na minha opinião), de A Condição Humana, no Brasil

Personalidade aventureira e fascinante –e empenhada-, Malraux combate na Guerra de Espanha, ao lado das forças republicanas, nas chamadas “brigadas internacionais”.

combatentes franceses do Maquis, em 1944
Durante a II Guerra mundial entra na Resistência, em 1943, sob o nome de Coronel Berger combatendo no maquis, e participando na libertação da França.
Depois da Guerra, liga-se à figura do general De Gaulle, de quem vem a ser ministro da Cultura, de 1959 a 1969.

Sob o ponto de vista familiar, a sua vida não se pode considerar ter sido muito feliz, ou estável.

Em 1922, casa com Clara Goldschmidt (que o acompanha na viagem à Indochina), de quem tem uma filha, Florence, ainda viva.
Separam-se em 1938, divorciam-se em 1940.
Casa Com Josette Clotis, em 1940, e têm dois filhos, Pierre-Gauthier e Vincent.
Durante o ano de 1944, enquanto Malraux combate na Alsácia (1), Josette morre num acidente, ao entrar para um comboio.

Em 1948, casa com a pianista, Marie-Madeleine Lioux, viúva do meio-irmão (Roland preso e executado em 1944, como resistente).
Divorciam-se em 1966.
Mantém durante muitos anos uma ligação com a escritora Louise de Vilmorin.

Em 1961, os dois filhos de André Malraux morrem num desastre de automóvel.

Morre em 1976.
Vinte anos mais tarde, em 1996, as suas cinzas serão transferidas para o Panthéon.

(1) a
Brigade Indépendente Alsace-Lorraine, ( BIAL), usualmente conhecida por BAL ou ainda brigada Malraux, era uma unidade das Forças Francesas do Interior durante os anos 1944-45 da Guerra, que combateram ao lado do exército regular Francês.

Malraux foi em grande parte um autodidacta.

Estuda artes, em especial a Arte do Extremo Oriente.

antiga piroga khmer

Conhecedor da arte oriental, atraído por essa paixão e pela aventura, segue para a Indochina, em 1920, vive e trabalha em Hanoï, escrevendo num jornal anticolonialista.

Ruínas do tempolo Banteay Srei

Viaja dali para Saigão à procura dos templos abandonados no interior da floresta do Cambodja onde espera encontrar exemplos de arte Khmer, os famosos baixos-relevos do templo Banteay Srei, em Angkor.


o Templo de Angkor


Acaba por ser preso (1923-4), acusado de “tráfico de antiguidades”. É libertado sob caução.
baixo-relevo do frontão do templo Banteay Srei

De regresso a França, escreve o romance La Voie Royale, "A Estrada Real", (1930), inspirado nesta experiência.

capa da edição portuguesa de "A Estrada Real"

Livro fantástico que tem um imenso sucesso. Segue-se-lhe "A Condição Humana" em 1933.
Em 1937, será a vez de "A Esperança".


Mais tarde volta à Indochina para participar no movimento revolucionário “Jeune Annam”, em ligação com o Kuomintang chinês. Deve ter feito nessa altura uma viagem à China.
Saigão, hoje cidade Hô-Chi-Minh


Malraux é uma figura incontornável da literatura francesa e da cultura mundial.

Uns acusam-no de ser um mitómano (cf. a biografia de Olivier Todd, "André Malraux -Une Vie", Gallimard, Folio, 2001), dizem "que se inventou a si próprio".

Então, acho que se inventou bem! Porque fazia falta...

No fundo, talvez tenha deixado só “correr”, sem desmentir, tudo o que foi criando e tecendo a lenda Malraux...

Que importa tudo o que ele disse de si e não era verdade? Importante é o que “escreveu” e era verdade.
A luta -de que fala constantemente- pela conquista da dignidade, da liberdade, de um a manhã mais puro, melhor, da possibilidade de se “ser” e que continua a ser tão verdade hoje, como quando o escreveu, noutra conjuntura histórica.

Importa é que se continue, de uma forma qualquer –cada um terá a sua...- a lutar para que os direitos das pessoas serem “pessoas”, iguais em direitos, independentemente do estado a que pertencem; ou da cor; ou da religião; ou da cultura existam!
Tal como ele fez.

Contra tudo e contra todos. Acreditando no sonho que nos move ou que nos leva...


combatentes franceses e ingleses em Dunkerk

Malraux interveio em todos os combates do seu tempo: na Guerra de Espanha, na Resistência, comandante da Brigada Alsace-Lorraine, em Dunkerk.
Armas da BLA


Ou lá longe, na Indochina, na China...

A sua crença na solidariedade, leva-o a participar, e a falar nos seus livros, da fraternidade das “brigadas internacionais”, chineses, franceses, russos, em La Condition Humaine, ou Les Conquérants, numa luta desigual e comum, morrendo lado a lado.

“Utopias...! Quem é que hoje acredita nisso?” dirrá algum ave agoirenta...

E eu digo: se não acreditássemos nisso, com a vida que se pretende viver hoje (ou para a qual "nos empurram"), sem esperança, sem acreditar nas ideias, nos bons sentimentos (que não é verdade que estejam só no inferno...), na solidariedade, na generosidade e apenas no "vil metal" -de que fala o nosso grande Camões! - então mais valia dar já um tiro na cabeça!


Algumas Obras:


La Voie royale (1930)
La Condition humaine (1933) que ganha nesse ano o Prix Goncourt.
L'Espoir, (1937), donde vai ser tirado o filme Espoir, sierra de Teruel , em 1938, que sair em sala só em 1945.

Uma ajuda, em Portugal, para compra na internet, WOK:

http://www.wook.pt/ficha/os-conquistadores/a/id/86221

http://www.wook.pt/ficha/a-condicao-humana/a/id/86374/filter/

http://www.wook.pt/ficha/a-esperanca/a/id/178620/filter/


Nota: "A Condição Humana" está "esgotada" ou "não-disponível"...

E ainda:

"A Tentação doOcidente";

"Le temps du mépris"
"Les Noyers de l'Altenburg"
"Chênes qu' on abât"
"Antimémoires"

Outras obras, no campo das artes :

Les Voix du silence (1951) -história e filosofia do mundo da arte
Le Musée imaginaire (1952-54) -museu da escultura mundial



Filmes : Espoir, sierra de Teruel é um filme francês realizado por André Malraux, que sai em em Paris em 1945.

4 comentários:

  1. Só li de André Malraux A condição Humana, livro duríssimo, de que tenho sublinhadas frases como esta:"Que penserions-nous si l´on nous parlait d´un grand peintre qui ne fait pas de tableaux? Un homme est la somme de ses actes, de ce qu´il a fait, de ce qu´il peut faire. Rien autre."(Terceira Parte—seis horas)
    Como sempre, um comentário cheio de conteúdo. A tua energia dá-me vibrações positivas, que é o que mais necessito. A tua energia e a tua bondade. Beijinhos

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  2. De facto, temos muitas coisas em comum: tb tenho a Condição Humana sublinahada e essa "un homme est la somme de ses actes, de ce qu'il a fait, de ce qu'il peut faire, rien d'autre!" é uma delas.
    E é fantástico! Porque nos "responsabiliza" até ao fim dos nossos dias: ce que "nous pouvons faire"!
    E aí está TUDO...
    Ainda bem que te ajudo, porque também tu me dás força!!!!
    Bjs
    Vou continuar com mais Malraux...
    Ele deslumbra-me! Vi fotografias de "la Métamorphose des Dieux" fantásticas! Vou pô-las...

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  3. Eu também só li a Condição Humana e fiquei muito curioso para saber mais de Malraux.
    O que li aqui no teu blogue confirma que ele era, de facto, um homem inquieto e insatisfeito. A sua vida atribulada reflecte essa inquietude que se verifica também ao nível das ideias; de radical de esquerda a gaulista, de combatente a político e diplomata. São assim alguns homens geniais: sofrem por eles e pelos outros; muitas vezes pelos que, como nós, preferimos a tranquilidade do nosso cantinho.
    às vezes diz-se que já não há homens de causas; talvez porque a maioria desses homens, como Malraux, Camus, Sartre, ou os clásssicos Tolstoi, Dostoievski, ou os grandes filósofos foram, na sua maioria, homens infelizes, eternamente à procura de uma coisa que cada vez menos nos interessa: o sentido da vida humana.
    Isto dá que pensar: valerá a pena passar uma vida inquieta, em nome de causas que, no fim de contas, se revelam sempre perdidas?
    A injustiça, a maldade, o ódio, terão alguma vez fim?
    Poderemos nós (ou deveremos), de facto, sacrificar a vida em nome destas causas? Ou bastar-nos-à admirar e perpetuar o nome de heróis como Malraux?

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  4. Obrigada por ter lido. A vida de malraux é muito interessante. Penso que foi um dos homens mais inteligentes e sensíveis do séc. XX... Toda a parte de Estética é importante, mas os romances (tem de ler La voie Royale - sobre a morte é um choque "saudável"...; e Les Conquérants é doloroso e inesquecível) são todos bons!...
    O livro de Todd é mt completo mas irritou-me às vezes.
    Muito interessantes os livros de memórias da 1ª mulher dele, Clara Malraux ( Goldsmith).
    Abraço

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