quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Passeio pelo Sabugal, a convite de amigos

a "Casa do Castelo", no Sabugal

Convidados por amigos, Natália e Romeu, fomos de passeio até ao Sabugal. Dias frios esses, mas essa manhã foi excepcionalmente bela.
Um sol brilhante, céu azul, enfim, tudo o que é bom num passeio.
Muitos anos antes estivera por ali e lembrava-me de um restaurante que nos servira tanta comida que -vinda de Itália, onde se come bem e muito- fiquei de olhos em bico.
Agora voltava. Continuo a pensar que se come muito –e bem”- no Sabugal.
Desta vez na Casa do castelo onde a bela e gentil castelã Natália Bisporecebe com classe e tem sempre a mesa posta para quem chega.


A Casa do Castelo é uma fabulosa caverna de Ali Babá, onde se encontra um pouco de tudo, misturado com uma quantidade de livros.
Na cave, onde está a sala de jantar, há mesmo uma ara judaica (Aron Hakodesh)autêntica, metida no granito da parede.
Aron HaKodesh


O Sabugal, a região em volta, é uma zona de cristãos novos e de "marranos" (os cristãos
que mantiveram, às ocultas, a sua antiga religião, a judaica).

o terreiro e a feira

No terreiro havia feira e alguns feirantes mostravam o seu artesanato, bric à brac, ou peças antigas.
Não resisti: comprei um tacho de barro (em segunda mão...) porque adoro o arroz feito no barro e levado ao forno, para acabar de cozer.

o tachinho de barro, já na minha cozinha, ao pé de um tabuleiro com embutidos de "amoreira" feito pelo Sr. Fonseca, em S. Tomé.

Acho que o que mais gosto de cozinhar é o arroz! (E, já agora, as massas italianas “vício” de 15 anos em Roma...)


Continuando... Foi o Sr. João, um senhor de olhar azul de grande nobreza, que me vendeu o tacho, mais uns pratinhos de Sacavém de florinhas azuis.

As casas de pedra, feitas de granito cortado em cubos, com o fumo das chaminés saindo perto das telhas.

As ruelas empedradas de casas pintadas de branco ou de pedra solta, algumas varandas ao cimo da escadaria sem protecção, tudo parece acabado de talhar na montanha.O castelo via-se imponente, ali ao lado.
Parecia-me impossível ter à minha frente um castelo medieval, tão verdadeiro, tão bem conservado, saído quase me parecia de um filme dos Monthy Python! Ou de Sir Lancelot do Lago! E lembrei-me de pôr esta tapeçaria...

tapeçaria com imagem medieval, Tapeçarias de Portalegre

Linhas sóbrias, ameias recortadas, portas de madeira onde os cavalos entravam em correrias...

Entrei também. As escadarias de pedra, sem apoio, vendo na vertical lá em baixo, girar, vertiginosamente, o terreiro.

Mais escadas, agora de madeira, que vão subindo e girando, quase em caracol, agora com um corrimão onde me agarro com força.

E continuo a subir.
Um lanço de escadas. Outro.
A paragem necessária para descansar e o espanto ao olhar para fora: a beleza do local, a paisagem era de cortar o sopro.

Mais um lance de escadas. Quantos foram?

De repente, para sair para o exterior, tive de baixar a cabeça para não bater na pequena porta que abre na muralha.


E, do lado de lá, o céu!
As terrinhas em redor, em baixo, as árvores, o rio, as serranias em volta.

Sei que depois grande parte das escadas desci-as mais ou menos sentada, do que em pé, com medo das vertigens.

Regressámos à Guarda, noite entrada, acompanhados pelos amigos. O jantar fora também óptimo, para não falar da companhia.

O condutor, o amigo Romeu, guiava com cuidado nas estradas estreitas e com curvas, onde a geada da noite começava a prender.

De repente, o termómetro marcou 3 graus e, um pouco mais adiante, baixou para 1 grau.

A Praça Velha esperava-nos gelada, deserta, belíssima. Respirar aquele ar frio fazia doer o peito.
Na manhã seguinte, a neve começou a cair e foi um nevão fantástico! Em poucas horas a neve cobria a cidade com mais de dez centímetros.



Os pés enterravam-se, os carros começaram a deslizar, descaindo nas subidas, um pouco desgovernados.
Espectáculo lindo, único, irrepetível.
Conseguimos apanhar o comboio para Lisboa, nessa tarde, quase por milagre.
Milagre que outra amiga conseguiu...
Sempre os amigos!
Aqui ficam mais fotografias para vos abrir o apetite de irem até ao Sabugal. E à casa do Castelo ver a castelã!

10 comentários:

  1. Que passeio tão bonito!
    As fotografias estão belíssimas.
    A história que nos conta a andar pela pedraria, ao longo do castelo: desde a castelã, a paisagem, a feira, o artesanato até ao tacho de barro em simbiose com o tabuleiro de S. Tomé, num entrelaçamento de culturas e vivências, é magnífica!

    Muito obrigada.
    Bjs. :)

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  2. O que dizer? Não sei MJ Falcão. Se é que se diz alguma coisa com uma vista dessas. Penso que algumas estruturas permanecem em pé desse jeito para que possamos matar a saudade de coisas que não sabemos ao certo como começam e nem se terminam.
    Por ora sonhar com imagens tão reais nos basta.

    cinco beijos,

    AMSK/Brasil

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  3. Saudações mrs Falcão e como sempre me encanto com suas postagens fantásticas e cheia de vivacidade de mostrar o belo conjugado no verbo do que existe de tão encantador. Confesso que estou fascinado com essa viajem e sua histórica geografia secular aos olhos desse mortal além oceanos de milhas. Fica na paz e um grande abraço - Namaste.
    Mr. Butterfly

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  4. Minha cara amiga:

    É mesmo isso,a tentar empurrar o mundo.Não é o que fazemos com gosto e determinação?

    É a beleza destas terras,mas sobretudo de pessoas como Natália Bispo,que por aqui nos prendem.

    Cordial abraço,
    mário

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  5. Sempre gostamos muito dos teus passeios, a ver quando te animas a sair numa foto, como a tua amiga!
    As pedras antigas é como se falasem do passado, sempre provocam emoções.
    Tens que me dizer como fazes o teu arroz no forno, eu também tenho uma receita boa, com grão e bacalhao. Beijinhos

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  6. Gostei muito das fotografias e do passeio :)
    um beijinho
    Gábi

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  7. O Sabugal (Portugal) é lindo e há tanto para ver!
    Como não gosto muito de sair de casa, viajar faz-me dores nas costas, etc, as fotografias são o pretexto para me "animar" e, claro, o resultado de ir sempre a olhar...mania que tenho desde pequenina..
    Maria, eu digo-te a minha receita deste arroz: muita cebola no refogado, muito tomate, orégãos, arroz basmati (claro...), um pouco de knorr (facilita). Mais ou menos a água é "a olho", como sempre faço tudo, mas deveria ser de 1 caneca de arroz para 2,5 de água. Quando o arroz está meio cozido, mudo-o para o tacho de barro e ponho no forno -já bem quente- até estar "comestível"
    Esta é a base, mas faço arroz com todos os legumes possíveis!
    Beijinhos
    (agora o grão com bacalhau...)

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  8. Aí vai (é muito simples, vais gostar): Num recipiente de barro deitas um pouquito de azeite e muitos dentes de alho (ao gôsto) picado. Quando começa a dourar, deitas o bacalhau aos bocadinhos e bastante salsa picada; remexes e deitas o arroz,voltas a remexer, para que se empape e,como sempre,sumo de limão para que o arroz fique solto. A continuação deitas a água(duas chávenas para uma de arroz)e um bom punhado de grão cozido, eu deito também azafrão porque em Espanha o arroz tem que estar amarelo...
    Está 5 minutos ao fogo e 15 no forno.
    Se não tens um tacho de barro que aguente em cima, podes fazê-lo num de metal que possa ir ao forno.Também podes pôr por cima uma batata nova às rodelas muito finas e pimentão doce, e acender o grill nos últimos 5 minutos para ficar tostadito.
    Voilà!
    Se gostas de arroz, em Espanha há maravilhas. Algum dia trataremos o assunto mais a fundo. Beijinhos

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  9. O teu arroz fantástico até deixou envergonhado o meu...
    Mas sei quanto vale uma "paella"! Até fiquei com fome: eu ADORO ARROZ!
    Obrigada. Espero que mais alguém aproveite da tua receita!
    Talvez a ponha mesmo no blog. Cultura é Cultura!
    beijos

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  10. Sinto dizer-te que este arroz, muito fácil de fazer por certo, é uma receita da minha sogra e não tem nada a ver com a "paella".A paella leva verduras variadas, e pode ser de coelho e frango, de peixe e marisco, ou mixta. Dá bastante mais trabalho, podes ter a certeza.Algum dia te contarei...

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