domingo, 1 de janeiro de 2012

NOVO ANO! HOJE EU QUERO....




“Hoje eu quero a rosa mais linda que houver/ e a primeira estrela que vier...
Hoje eu quero a alegria de  um barco voltando/quero ternura de mãos se encontrando...”
Era a letra de uma canção, antiga...

Pois hoje eu quero isso tudo  para os meus amigos!
Hoje é a oportunidade que temos  de desejar tudo...
Se pudermos, vamos  esquecer as amarguras, os medos, as tristezas passadas!

O ano que aí vem pode ser duro, será, mas não falemos disso, nem pensemos nunca  em desistir das nossas aspirações e da nossa “utopia”.

Falemos de hoje, do que ainda temos e do que podemos dar aos outros: o  calor humano, o amor, a solidariedade,  a recusa da tirania do dinheiro.

Pensando no amanhã que ainda depende de nós!

Lembro uma máxima do rabino Shammaj, que vem no “Pirqè Abbot”, um livro que fala de Ética, de justiça:
“Fala pouco mas faz muito, estuda sempre e recebe de braços abertos quem vier ter contigo.”
Ou do rabino Josué:
Procura um exemplo que te sirva de Mestre, segue os ensinamentos de um justo,  encontra um amigo,  julga todos pelo seu lado bom.”
Ou do suave Rabbi Hillel que dizia:
 “Ama a paz entre os homens.”
Ao contrário, vemos a guerra, as matanças, o desrespeito pela vida e pela dignidade das pessoas e da vida... Pensar que hoje ter trabalho é um "luxo" que não é permitido aos que dele necessitam é traumático!

Lembro um momento. Podia ser assim, como no quadro de Renoir, jovens alegres e despreocupados num dia de encontros. Mas não era.
Podia ser um dia de Primavera, na cidade florida da minha infância. Mas não era...


Foi  há poucas semanas, em Portalegre, na esplanada do Café “Tarro”, em pleno Rossio, com vista espectacular para a cidade.
E tinha sido um magnífico pôr do sol de Inverno!
Mas a noite caíra, gelada. Encontrei  um grupo de gente nova que falou abertamente connosco: das suas  esperanças, apesar da lucidez  crua sobre o futuro difícil e inseguro.

No desemprego, uns (ou os pais deles...), outros a estudarem, outros já com um curso sem saber o que fazer com ele, como o Primo (assim lhe chamavam os outros), mas que se chamava Miguel.

Uma jovem, inteligente e bem bonita, a Sandrina, ia trabalhar num Cruzeiro, mas pouco convencida do bem que isso lhe traria, ou da segurança que significava aquele trabalho de uns meses.

“Está tudo a ir embora. Nós não queremos ir embora. Eu preferia ficar... Mas o que faço?

A mais novita, Helena, entusiasmada,  estudava para Chefe de Cozinha, na Escola de Hotelaria da cidade.
Queixou-se dos adultos que diziam que “os jovens não querem é trabalhar!”, que os criticam sempre e não os percebem.

“Quem é que não quer trabalhar? Dêem-nos trabalho...”, acrescentou o amigo, que se chamava Pedro, um rapaz um pouco macambúzio, no desemprego há meses.
Ela adorava animais, trazia a sua  cadela boxer, um doce animal, cor de camurça, apesar da aparência agressiva. Contou que tinha um quintal, com árvores e muitos passarinhos, peixes num lago e muitos gatos.

Gostei. Porque foi um momento em que senti “pulsar” o coração da nossa juventude, senti o protesto e a respiração desses jovens que se sentem abandonados.
Gente que desespera. Mas que protesta. Que exige. E  que quer estudar, aprender.
“Porque sem isso é que não vamos a lado nenhum...”, concluiram.
Talvez haja ainda uma saída...
O ratinho, atrás de mim, como um  fantasminha  branco veio murmurar-me, agora mesmo, ao ouvido:
- “Já viste o que os espera? Já leste o que aí vem: aumento dos bens essenciais, o pãozinho com queijo e o café de que gostas tanto...
O ouricinho disse logo:
- “ E a saúde? Os transportes? Viste as taxas moderadoras?!”
Outra vez o ratinho:
-  “Lembras-te? O Rei de Marrocos nunca aumentou o preço do pão...”
Estavam chocados e até um pouco baralhados.


Era verdade tudo!
“Eu sei, eu sei, eu  sei!”, quase gritei para as vozes da minha consciência e do meu protesto. Os companheiros da minha indignação...

“Tudo isso é verdade, ratinho e ouricinho, mas com gente assim, que quer lutar,  que não baixa os braços, não podemos desesperar! Vamos continuar a acreditar!”
Sim, penso hoje aqui: em todos os túneis há sempre uma saída!
Ontem o fogo de artifício em São João, pela primeira vez desde cá moramos, surpreendeu-me: nunca tal aqui houvera em tantos anos!
Pensei: "que bonito! um momento de beleza, mesmo que seja efémero, vale sempre tanto!"


Serão os últimos fogos de um mundo que não quer acabar?
Restam as cores no ar, as estrelinhas brilhando, meio-desfeitas, o cheiro, o fumo, a nuvem que envolveu aquele espaço perto do mar...

Mas por que há-de acabar???
Por isso, para vocês, amigos meus, para todos aqueles jovens , hoje eu quero isto tudo... E quero acima de tudo a vossa companhia!

Ilustrações:
Presépio com bonecos de Estremoz (MJF)
Estrela (MJF)
Azulejo português (mandou-mo a Ana)
Auguste Renoir, "à beira do  rio"
Pisanello, "Torneio mortal"
Abel Salazar, "Caixeira"
Auguste Renoir, "Bal au Moulin de la Galette"
Portalegre, "no tempo dos liláses" (MJF)
Portalegre, "sunset", de José Fernando
Elisabeth Baysset, "Pássaros"
Manuel d'Assumpção, "sem título"
Manuel d'Assumpção, "figura"
Fogo de artifício (MJF)
Ano 2012 (MJF)

9 comentários:

  1. Obrigada pra isso post muito bom. Tanti cari auguri, seguendo quello che hai scritto. Un abbraccio forte e un bacione.

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  2. Palavras maiores, as do rabino Shammay, tão simples e tão complicado "falar pouco e fazer muito", coisa de sábios!!

    A Noite do Meu Bem, há quanto tempo não me lembrava desse samba tão quentinho para reconfontar almas tristes, quando a gente ainda espera e ainda tem frio...

    Gostei muito do presépio, e adorei a foto da mesa. Não é por nada, mas tenho uns candelabros de estanho iguaizinhos com umas velas côr de rosa, que foram a prenda de casamento de uma grande amiga que perdi "como perco tudo" (Miguel Torga).
    Gosto de velas acesas, mais que da luz eléctrica, não me estranha nada que antes de Edison as noites fossem mais românticas e aconchegadas...
    Sem ir mais longe neste momento tenho tanto frio, que precisaria de centos de velas acesas à minha volta.
    Um beijinho, conta com a minha companhia enquanto te fôr grata, claro.

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  3. Gostei imenso do texto e de todas as imagens que o acompanham.
    Adorei o presépio com aqueles dois intrusos simpáticos. Onde eles estão há alegria!

    O ano há-de melhorar um bocadinho...

    Um beijinho grande

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  4. Que a amizade entre vocês cresça a cada ano e que com isso possamos gozar mais e mais do carinho e da ternura de vocês.
    bjs as duas

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  5. Vamos agarrar-nos aos amigos e continuar lutando. Também quero acreditar que pode ser possível!

    Beijinhos e Bom 2012

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  6. Também quero acreditar que ainda é possível um amanhã melhor.
    Eu estarei sempre por aqui, uns dias mais presentes que outros, mas sempre por aqui.
    Beijo doce, belo Falcão Lunar.

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  7. Baixar os braços é que não resolve nada! Temos que lutar sempre e fazer ouvir o nosso descontentamento!
    Uma coisa é certa, estarei sempre presente por aqui ou através de outros meios!!

    Um beijinho especial e um Bom 2012.

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  8. Gostava de poder partilhar da sua esperança e, é verdade, ler o que escreve alivia um pouco. Mas não consigo aceitar o sofrimento que a ganância de alguns vão impor a tantos.
    O túnel há-de ter uma saída, mas não me parece que venha a gostar da "nova ordem".
    Um bom ano para si e um abraço

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