sábado, 23 de junho de 2012

Sementes de violência : Rock Around The Clock




flores em frente da escola, em Rennes
Foi esta notícia que me impressionou e levou a escrever: um aluno de 13 anos morreu, em Rennes, hoje, em consequência de uma briga com outros colegas...

Tantas vezes lemos notícias destas que nos assustam, arrepiam, pela violência que mostram em idades que não o deveriam ser!

É só de agora? Claro que não...

Lembro um filme que se chamava  exactamente “Sementes de violência". Filme do realizador americano Richard Brooks, em 1955.


Na altura, foi aclamado, pela crítica americana: “Arrepiante! Tema actual! Dinamite social!”

Quando saiu, a crítica americana, aclamou: "Arrepiante! Tema actual! Dinamite social. "Em Inglaterra, quando foi apresentado, mais tarde, houve manifestações dos jovens “teddy boys” ingleses que partiram tudo e se puseram a dançar no cinema.

Quem era Richard Brooks?

Richard Brooks foi o realizador de vários filmes importantes na cinematografia mundial. Começou, colaborando com John Huston, no filme “Key Largo” (1948) de que escreveu o guião.

Em 1950, realiza “Crisis”, com Cary Grant;  em 1955, surge  “Blackboard Jungle”; em 1958, “Gata em telhado de zinco quente” e  “Os Irmãos Karamazov” (1958); em 1965,  “Lord Jim” (do livro homónimo de Joseph Conrad, 1900).



Richard Brooks  nasceu em Filadélfia, filho de judeus russos, em 15 de Maio de 1912, e morreu em Los Angeles, em 1992.



O filme “Sementes de Violência” ou "Blackboard Jungle", título original, foca um assunto difícil: a delinquência juvenil e a violência nos estabelecimentos escolares.

fotografia tirada do blog "Palavas daqui e dali"

Blackboard é o "quadro negro" das nossas lições...

Aqui fala-se da juventude “queimada” porque sem futuro que gere o terror na escola, em que, espécie de “selva”, são as aulas.

São os tempos dos inícios do Rock’n Roll e a banda sonora do filme apresenta “Bill Haley and His Comets”, que vai ficar famosa no mundo inteiro.


Richard Dadier (o actor Glenn Ford) é o novo professor de inglês que chega a uma escola “técnico-profissional” onde reina uma atmosfera de medo: “sem lei”.

Mas Dadier tem um sonho, quer mudar à sua volta o que está mal.

Depara-se-lhe um “corpo docente” dividido entre os que pregam a  falsa “compreensão” e a tolerância –para “não levantar ondas”-  e que prefere “não ver” o que se passa nas aulas, para ter algum sossego.

O outro grupo de professores, distantes, numa autoridade quase despótico, que, do mesmo modo, “ignoram” os problemas dos alunos, pelos quais  não têm qualquer interesse verdadeiro,  e a quem “ministram” apenas os conhecimentos “possíveis”.
 Possíveis, ou nulos,  porque poucos deles os “ouvem”...

Richard Dadier tenta compreender os alunos. Avisam-no que faz mal e que é uma causa perdida. Ele continua, tentando um diálogo nem sempre fácil, como se tratasse de uma “missão”.
Vassiliy Kandinsky, negro e violeta

Nas aulas a violência, sempre latente desde o início, vai “explodindo” de várias maneiras.
Um dia lançam-lhe uma bola de baseball enquanto escreve no quadro. 

Tranquilamente, diz apenas: “o que lançou a bola nunca jogará com os grandes”.

Tenta controlar situações sem solução.

Pergunta: ”Como posso conquistá-los?” 

Assim falava a raposinha ao Petit Prince...

(E o Principezinho dizia que "só se vê com o coração...")

Do mesmo modo, Dadier acredita que há uma maneira que deve encontrar para lidar com aqueles miúdos “que são a imagem do mundo, perdidos, desconfiados e assustados.”

Até que uma professora é agredida por um aluno, ele sai a defendê-la.

 Sofre “retorsões” por parte dos alunos “encabeçados” pelo “chefe”. 


Procuram intimidá-lo, tentando agredi-lo ao pé de casa, enviam cartas anónimas à mulher. Provocam-no nas aulas.

O professor resiste, e não vai apresentar queixa nunca. 

Continua a tentar o diálogo. Alguns alunos aproximam-se dele.

Não são monstros, nem feras”. 

São seres frágeis manobrados por um “chefe” a quem se “agarram”, para o bem e para o mal, na sua enorme fragilidade e na carência de afectos e de valores.

Como hoje, afinal...

O que leva miúdos adolescentes a baterem-se até à morte de um deles? Como é possível outros adolescentes matarem um amigo?
Parece impossível, mas aconteceu. E acontece.

Situações irreversíveis?
Não.

No filme, o professor julga que o culpado, o chefe do clã, é um aluno negro (Sidney Poitier). Fala com ele. Acusa-o, ele não se defende.

Descobre depois que o instigador das violências é afinal outro jovem, este branco (o actor Vik Morrow).


Escolhe a confrontação directa e violenta, na aula com ele. Sem se valer do facto de ser “o prof” e da sua autoridade. Sem qualquer privilégio...

E vai ganhar, assim, a confiança dos alunos...

Nos filmes é sempre diferente, podemos pensar. As coisas acabam bem...

É verdade. Mas não impede que, na vida real, as situações tenham de ser resolvidas caso a caso, procurando responsabilidades, culpas, mas também as causas que estão na raiz do problema.

imagem do filme "O Clube dos Poetas Mortos"

Na abertura constante de um diálogo. Um diálogo sério e positivo.

Como diria Saint-Exupéry: “Ils faut les apprivoiser”. 

Com tudo o que há de entrega nossa...

E deles.

Video com o  filme:


http://youtu.be/Vl_azYV0JiE

9 comentários:

  1. Li o livro "Sementes de violência", há muitos anos, mas tinha a ideia que o livro não acaba bem, não sei. Na altura acho que tinha começado a dar aulas e pensava como seria ter alunos assim, como deve ser difícil lidar com eles.
    Não tenho experiências com alunos muito problemáticos, felizmente. Digo felizmente, porque apesar de sabermos que muitas vezes são miúdos que têm por trás histórias de vida dolorosas , é díficil tentar compreendê-los e ao mesmo tempo aceitar que com as suas perturbações e os seus problemas, prejudiquem aqueles que estão com eles nas turmas e que querem e têm direito a um bom ambiente.
    É difícil gerir tudo isto.
    É muito triste quando há assim uma morte estúpida e inútil de um jovem que tinha uma vida pela frente.

    Vou tomar nota do link, porque gostava de ver o filme. Acho que nunca o vi. Vou vê-lo quando estiver mais livre, porque me pareceu que estará completo, não é?

    ( Muito obrigada por ter escolhido esta foto)

    Um beijinho grande

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    1. Sabes, já não me lembro bem, mas acho que é um fim trágico. Também estou a precisar de o voltar a ver.
      Tens razão: ensinar é muito mais difícil do que se julga, é como estar no "fio da navalha" muitas vezes. Uma palavra pode ser o bem, ou trazer mal...Pode aproximar ou afastar. Tive alunos difíceis que hoje recordo com tanta ternura, e tanto me fizeram "sofrer"!
      Gostei muito da tua fotografia por isso a "roubei"!

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    2. Muitas vezes isso acontece. Os mais difíceis, deixam saudades. Um dos meus alunos mais dificeis (nada comparado com estas histórias do filme) foi um ciganinho, que nunca tinha estado preso em lugar nenhum. Fugia-me da sala, chamava-me "roubadona" porque eu lhe tirava as batatas fritas que ele queria comer dentro da sala de aula...
      Foi difícil e imagino que para ele também foi violento estar naquela "prisão" que era a sala de aula. Mas foi-se habituando. Foi meu aluno dois anos. Era muito lindo, de olho azul.
      Lembro-me do "meu Carlitos" sempre com ternura e acho que ele não me vai esquecer.

      Os seus tinham idades mais complicadas.

      "roube" as que quiser, que eu fico feliz.
      Um beijinho

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  2. Gostei de recordar, mas fiquei triste pensando como coisas que pareciam longe cruzaram tão depressa o Atlântico, e vieram para ficar.
    FÍNDE: forma resumida de dizer " fim de semana", os espanhóis gostam muito de poupar saliva...
    Bom finde pois, my dear!

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    1. O mundo é uma grande terra! E como dizem os meus italianos "tutto il mondo é paese..." Tudo acontece, igual, em toda a parte. Com pena o vemos, não é?
      beijinhos e bom finde, então!

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  3. Eu saboreei cada hum dos 7 minutos deste trecho do filme, minhas lembranças se acenderam e eu evoquei tantos grandes artistas de um tempo em que os filmes e os seus atores e atrizes sobravam em genialidade....Conheci todos os filmes das décadas de 60-70-80...
    Saudades daqueles tempos.
    Crianças matando crianças: isto me parece inexplicável, poia crianças são mais para o lado de Saint-Exupéry....a enorme maioria.

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    1. Saudades, é verdade! grandes actores, grandes "vivências" de humanidade, dos problemas que afligem todos os homens...
      Obrigada pelo seu comentário e pela sua indignação: crianças deveriam "ser mais para o lado do Saint-Exupéry..."

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  4. Uma notícia triste. Uma viagem a memórias que estavam adormecidas.
    Beijinho MJ e obrigada pela sensibilidade!
    O Principezinho é de uma beleza extraordinária!:))

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