quinta-feira, 26 de junho de 2014

A história da pomba que gostava de ler…


Aconteceu-me esta história incrível, neste início do Verão: uma pomba veio várias vezes visitar-me...


Não, não foi a pomba de Picasso cheia de cores, nem o "espírito santo" da tábua de madeira de um retábulo que comprei a José Régio.

Era uma pomba de verdade! Parava no poial da minha varanda, ficava a olhar com um ar profundo e curioso para as minhas flores. 

Quando eu a espreitava, ela fugia. Voltou uma ou duas ou três vezes. Passeava pelo chão, pousava no vaso da palmeira, e andou a procurar por aqui e por ali. Não encontrou nada, creio, eu não gosto de alimentar as pombas. Sei que têm as suas doenças, melhor vê-las mas não conviver...





Seria sempre ela, ou seria uma amiga? Ou um amigo? Não posso dizer porque só conseguia observá-los através dos cortinados. E ia fotografando...



Ontem, de repente, dei por ela empoleirada na estante da sala, mesmo no lugar onde duas estantes formam ângulo! Não a vi entrar e quase me assustei também.

Chamei-a, voou para a outra estante, bateu nas prateleiras, desequilibrou-se, deu às asas, aflita.



Voltou a voar para o mesmo cantinho onde se foi esconder detrás de um monte de livros. 

Nesse canto mesmo, há muitos anos, quando instalava as estantes, depois de uma longa estadia noutras paragens, ao arrumar os livros -com a minha grande amiga Lívia- acabámos por deixar cair, lá para o buraco fundo, um monte deles…



Como é impossível tirá-los de lá pois não faço tenção de mudar as estantes nesta vida, ali vão ficar até ao fim dos tempos!
A pomba andou a volitar por aqui e por ali, de estante para estante, e de parede a parede, hesitante e medrosa. O que procurava?

Subi no escadote para a ajudar a encontrar a saída. Falei-lhe mas ela virou-me a cara. Sacudi um pano em frente dela e voou para se ir empoleirar no varão dos cortinados. 


Esperou uns segundos e deu mais uma volta pela sala. Se calhar, queria ver melhor os livros!


Penso que a dada altura respirou fundo e, decidida, abriu as asas e voou através das vidraças escancaradas. 

Vi-a passar rente ao parapeito e descrever um círculo no céu por cima dos telhados - e desaparecer...



Voltará? Talvez. Não digo dentro de casa...mas pelo menos à minha varanda!



Eu só pensava, depois: ainda bem que a pomba não decidiu ir ficar mais tempo a ler aqueles livros do cantinho! Por acaso, vi que gostava da "Casa da Malta", de Fernando Namora e outros e de "Domingo à tarde" de Domingos Monteiro...



E se caísse lá para o buraco entre as estantes? Como é que eu depois a tirava de lá?

E o Ratinho o que fez?, E o Ouricinho?, perguntarão os mais íntimos destes dois amigos...
Pois, esses estavam a brincar com os meus pós de arroz e não deram por nada!




9 comentários:

  1. Que história tão engraçada! Ainda vai ter saudades de ver por aí a pomba a cirandar!
    Como é que ela se atreveu a entrar em casa! Que giro...

    O Ouricinho e o Poeta devem ter ficado aborrecidos de não terem presenciado toda a cena! Paciência, para a próxima têm que estar mais atentos!

    Estou para aqui a magicar um esquema para, quando lhe fizer uma visita, conseguirmos tirar os livros lá do canto (se quiser). Até já tenho uma ideia! :)

    Um beijinho grande :)

    (Tinha deixado um comentário no post anterior e não sei porquê não seguiu...)

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  2. Aparece com as tuas ideias e logo vemos se os livros conseguem sair do buraco... Com uma cana de pesca???
    Beijinhos

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    1. Bem, não era bem isso, mas é uma ideia!... :)
      Um beijinho :)

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  3. Olá, Maria João!
    Situações dessas são sempre engraçadas.
    Andaria a pomba a a "estudar" o ambiente envolvente para que esse fosse também o seu porto de abrigo?!
    Não escolhia mal... mas sujam tudo e é como diz, é preciso ter cuidado pois são transmissoras de doenças!
    Mas que seria bom ver o ouricinho e o ratinho poeta com a amiguinha pomba!
    Bem, parece que já tem ajuda para retirar os livros caídos...

    Um beijinho e bom fim-de-semana.:))

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  4. Eu bem queria ter tirado a fotografia com eles, mas foi tão rápido tudo! Um beijinho

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  5. Aqui acontece, muitas vezes, entrarem pardalitos assustados. Para sairem é sempre uma aventura... Lembro-me, há muitos anos, do Dr. Falcão ter apanhado um morcego na sala a ainda me rio com a lembrança da cena!
    Beijinhos

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    1. Querida Luísa, ouvi contar essa história do morcego! Imagino bem o meu pai!!!! beijo e bom domingo. A seguir ao sábado, vem sempre um domingo!

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  6. Maria João,
    Que história bonita.
    Um convívio algo perturbador pois a pomba não sabia se queria a liberdade ou o conhecimento.
    Do cheiro dos livros deve ter gostado.
    Já reparou a companhia que lhe fez?
    Uma pomba que leva uma mensagem: curiosidade.
    Beijinho e obrigada pela partilha.
    :))

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