sexta-feira, 3 de outubro de 2014

~Curiosidades das religiões:é véspera de Yom Kippur


Kol Nidrei, Concerto na Sinagoga de Viena



Hoje é a véspera do Yom Kippur, o "Atonement Day". A festa mais importante, em Israel e para os judeus de todo o mundo, o dia "mais santo" do calendário hebraico: dia do Arrependimento e do Perdão. Hoje é o começo de 24 horas de jejum, de silêncio e de meditação...
Yom Kippur, Jerusalém (foto de Gabriel Steinhardt)

(Levítico, 16, 30 "Neste dia Ele perdora-te-á: purifica-te, estarás limpo de pecados perante Ele")

Voltando atrás no meu tempo, recordo as ruas, agitadas ainda a esta hora, em Telavive (se bem que lá sejam duas horas mais tarde), a azáfama a voltar para casa e a preparar o jejum: dentro em pouco, as ruas desertas …

Impressionava-me o rigor desta "marca cultural", de origem religiosa, é certo, mas depois apenas "tradição" e "cultura" para muitos ateus de Israel e do mundo, que se reconhecem nesta “tradição”.

Telavive ao cair da tarde ficava vazia. O silêncio descia sobre a cidade. Uma tranquilidade espalhava-se e o sol começava a entrar no mar, devagarinho.

Era o Yom Kippur! Quem não jejuava, fazia o possível por ter comida feita, comer coisas já preparadas, para não “ofender” com os odores de um cozinhado  o “jejum” que os outros respeitavam. 

Às vezes, lembro-me que íamos até à Promenade, com o Zac, passeávamos a ver a praia onde alguns recalcitrantes ao jejum, sentados na areia, brincavam ou olhavam para o mar. 
Descíamos até à Torre Migdalot, passávamos debaixo da passagem e estávamos na rehov Ben Yehuda, a rua da grande Sinagoga de Telavive. Algumas pessoas dirigiam-se para lá, estugando o passo. 

Por vezes andávamos mais um pouco, passando em frente da escultura de Ben-David Zadok, "Beyond Limits" - que, talvez por ter chegado de São Tomé há pouco tempo, eu imaginava ser um enorme fruto do cacau, com um macaco de pernas para o ar! 



Continuávamos até à Sheinkin a pé, pois o habitual sherut, o mini-autocarro de 7 lugares onde costumava andar, não funcionava depois desse pôr do sol. Nem havia qualquer outro meio de transporte.

Não importava, íamos andando e o passeio era agradável, no meio de um silêncio cada vez mais completo. Comunicava-se-nos uma sensação de calma.

A noite descia e "faltava" o costumado barulho dos telaviveanos, a música a sair dos carros, as janelas abertas, o movimento toda a noite – Telavive é conhecida como a “cidade sem repouso” (Ir bli hafssaka) e, de facto, de noite e de dia há gente, há barulho, há agitação.


Yom Kippur, Telavive  2013(foto de Gabriel Steinhardt)

E as ruas vazias e o silêncio continuavam pelo dia seguinte fora. As crianças, porém, podiam brincar e era então que apareciam de todos os lados com os patins, os "skateboards" e as bicicletas pois não havia perigo nenhum! E continuavam pelo dia e pela noite fora.

 Angela Buchdal

Muitas vezes fomos à Grande Sinagoga assistir ao Yom Kippur. Era impressionante ouvir o canto do hazzan (cantor), a tristeza do canto chamado Kol Nidrei (Todos os Votos), o lamento pelos que desapareceram nos campos de concentração, o desespero e a esperança ao mesmo tempo.


A Lamentação dos Anjos, de Mizrachi Motti (Telavive)

Não sei se sou religiosa –ou de que religião sou, se o sou...- mas levava o meu livrinho de “Salmos” e ia lendo o Salmo 33. Lia e relia. Ouvia o grito daquele canto. E às vezes dava-me para chorar pelos meus mortos.


Vou pensar nos meus amigos judeus que vão lamentar os seus mortos, que vão chorar enquanto cantam. Tantos mortos, tanta perseguição, tanto sofrimento.

"Gmar Hatima Tova, haverim!" Que o vosso nome seja escrito, por mais um ano, no Livro da Vida!

(*) Por curiosidade, escolhi uma mulher-rabbi-cantor para vos trazer o canto Kol Nidrei (Todos os votos).
 Buchdal, com o "talit"

É Angela Warnick Buchdal, nascida em 1972, na Coreia do Sul, Seoul, e ordenada “hazzan” em 1999 e, mais tarde, “rabbi” - em 2001. 
A mãe de Angela, coreana, era de religião budista e o pai, um judeu americano askenazita (vindo da Roménia), Frederik David Warnick, é um judeu “reformista”.
É a primeira mulher a ser “cantor(a)” no mundo e a única que é simultaneamente rabbi e hazzanÉ a Senior Cantor da Central Synagogue de Nova-Iorque.


4 comentários:

  1. Muito interessante.
    Obrigada pela partilha!:))
    Beijinho.

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  2. Interessante, este post. Gostei de ler:)
    Bom fim-de-semana:)
    Um beijinho :)

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  3. É bonito o que contas em primeira pessoa. Ter vivido em Israel foi uma experiência que te marcou. Eu sempre associei povo judeu e um dos povos mais inteligentes do mundo.
    Gostei de ouvir Ángela W. Buchdal, também gosto muito das liturgia católica, a música, os rituais, o cheiro a incenso, tudo está concebido para inspirar paz interior. Para mim uma catedral vazia é o melhor sítio para falar comigo mesma,( porque por desgraça para mim, quando não estou com alguém, estou irremediavelmente sózinha).
    Bom finde

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