quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Emil Nolde: o pintor do vento do Norte...


um dos quadros "não-pintados"



Li há uns tempos um artigo que falava do “pintor que pintava o vento” (Philippe Dagen, in Le Monde 12/8/2014). O pintor era Emile Nolde.

montanha sobre o mar

Pintou os mares do Norte, os gelos, o vento do Báltico e do Oceano Atlântico, os mares do ponto extremo norte da Alemanha, perto da Dinamarca.
Não foi ele o primeiro que o fez, mas sim Caspar David Friederich, seu compatriota. Este de facto, pintou o 'seu' Mar de Gelo, muito antes (1823), no Báltico. 
Mar de Gelo de Caspar David



Outro que se encantou com estas paisagens geladas foi o norueguês Edvard Munch que “pintou o pôr do sol e luas nascentes, reflectidos na água. Das baías, das ilhas rochosas e dos ilhéus de areia dessa região”.
Edvard Munch, Céu estrelado

Edvard Munch, Lua no mar


Mas falemos de Emile Nolde. Por volta de 1901 vai passar uns tempos numa aldeia da Jütland – esse extremo Norte da Europa- e volta no ano seguinte, agora acompanhado da mulher, Ana.

Emile Nolde, papoilas

Entre 1903 e 1916 vivem os dois numa cabana de pescadores, numa praia da Ilha de Alseu, e onde vêm estar frequentemente. Alternam os tempos ali e na quinta de Nolde em Utenwarf (costa ocidental). Em 1926, o pintor consegue desenhar e construir a casa e o atelier que tanto desejava", diz Phipippe Dagen. 
mar e terra


luar no mar


Emil Nolde esteve em Paris, em 1900, em Itália, em 1905. E de 1906 a 1907 fez parte do grupo alemão expressionista “Die Brucke” (a ponte).

Quem ele verdadeiramente admirava e aceitava era Van Gogh, “aquele holandês, aquele nórdico ruivo.” 
Van Gogh, Noite estrelada

Mas em 1926 já tinha voltado à sua casa de Seebüll, a pouca distância do mar. É nessa casa que vai passar os anos do nazismo. A história das relações de Nolde com o nazismo é bastante complicada.

Em 1935, compromete-se com os nazis mas logo em 1937 é considerado pela “cultura do Reich” como um dos pintores degenerados. Nesse ano, cerca de 1000 telas do pintor são confiscadas nos museus e várias são escolhidas para figurar na exposição nazi da “arte degenerada” (entre 1937-1938)". 

Não se ignora que foi um defensor entusiasta das ideias do nacional-socialismo. E os seus comentários anti-semitas são conhecidos, referindo-se quer a pintores como Max Liebermann, como a galeristas judeus como Bruno Cassirer. O que não impede os nazis de o considerarem degenerado, como tantos outros pintores.

 "(...) as obras de Nolde foram confiscadas pelos caçadores de arte nazis, muitas delas expostas em Munique na infame mostar da Arte Degenerada de 1937. Foi impedido de pintar e de manter relações com galerias de arte e com o mercado de arte para o seu sustento como artista."
o mar (quedro não-pintado)

 Em 1941, Nolde é proibido de pintar e passa a ser vigiado pela Gestapo. Encerra-se, então, no atelier de Seebüll e, às escondidas, pinta as chamadas “imagens não pintadas” – as imagens proibidas: mais de 1300 aguarelas de pequeno formato. Nesse local pinta, durante anos, os mesmos motivos: os pântanos, os canais, o mar, a vegetação rasteira.

mar encrespado

Nesse local pinta, durante anos, os mesmos motivos: os pântanos, os canais, as terras baixas, a vegetação rasteira e as ondas vindas do mar alto”.
Nolde expressionista, Tango


Por que fez esta escolha de viver e pintar aquela região do Norte? Porque era a sua terra. Nolde nasceu, nessa zona do Schleswig, em 1867, numa quinta que era dos avós dele há mais de nove gerações.
mar e terra

Nos últimos anos, fechado em Seebüll, de cortinas cerradas, no seu atelier vai “imaginar” e pintar de memória, escondido, o que não pode fazer à vista de todos. 
E pinta o vento, o mar, o céu pesado e as cores fantásticas que o mar tem. 
nuvens de verão

Morre nessa casa em 1956. Hoje existe ali uma fundação consagrada às suas obras.
Em Junho do ano passado realizou-se no Museu Städel de Francoforte uma retrospectiva da sua obra.



7 comentários:

  1. Também Salvador Ali num carro em movimento
    pintou a velocidade

    Bj

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  2. Creio que nunca ouvi falar do pintor, mas gostei das pinturas.
    Onde é que a Maria João descobre tantas coisas preciosas e desconhecidas?

    Um beijinho grande e bom fim-de-semana:)

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  3. Vou lendo por aqui e por ali... Beijinhos e bom fim de semana!

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  4. Gostei muito, sem dúvida um pintor a ter em conta. Guardei...

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  5. Esplendorosamente belo este post apesar do frio (ou será pelo frio que...) "O pintor que pintava o vento": um sopro genial.

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