sexta-feira, 11 de março de 2016

BASHÔ E A COMPLEXA SIMPLICIDADE DA POESIA

Bashô (Matsuo Kinsaku), poeta japonês de ‘haikais’, e diarista, nasceu em 1644, na província de Iga, numa terrinha perto de Kyoto, Ueno. 
 Filho de um samurai de casta inferior, estudou no Castelo de Ueno com o Samurai Todo Yoshitada, filho do Senhor feudal da terra, os versos de 17 sílabas, os ‘haikus’ ou ‘haikais’ se consagra à poesia e, segundo ele próprio diz, “faz do haikai a sua vida”. 
Castelo de Ueno

Depois da morte precoce desse amigo, em 1667, mudou-se para Edo (hoje, Tóquio) onde estudou com Kigin, um distinto poeta de Edo.
Estudou Taoísmo e poesia Chinesa e continuou a escrever versos.
Bashô (Matsuo Munefusa)

 Em 1672, em Edo, Bashô preparava-se para uma carreira literária.  Em dado momento da vida, decidiu isolar-se do mundo e foi viver para uma cabana nos arredores de Edo. Criou um grupo de discípulos com quem discutia sobre a arte do 'haiku'. Ao mesmo tempo, viajava e aceitava a hospitalidade dos templos e de outros colegas poetas. E escolheu o nome de Bashô quando um dos seus alunos lhe ofereceu uma árvore, espécie de bananeira sem frutos e de folhas suaves que serviam para dar sombra.
Por volta de 1682, começa as longas jornadas a pé, que duram meses. 
"Deambulei, como uma nuvem no vento, querendo só capturar a beleza das flores e dos pássaros."

 Hocusai, Monte Fuji

Pelas estrada,s observa e encontra ‘material’ para uma nova forma poética por ele criada, chamada ‘haibun’. Haibun é uma forma híbrida entre haiku e fragmentos de prosa: entre as imagens do  exterior, observadas no caminho, e as imagens internas que passam no espírito do viajante durante essa jornada, um pouco à maneira de um 'diário'. 
 Hiroshige, Monte Fuji


Viajante é o seu nome...
"First winter rain -
I plod on,

Traveller, my name."

 Sente-se na sua poesia uma forte influência da seita Zen do Budismo. Bashô foi um monge Zen.

Bashô gostava da solidão e da natureza que contemplava com atenção. Preferia uma vida livre de ambição, de posse e de independência. Os seus haikus são o resultado de um trabalho do seu olhar atento às coisas simples, às flores, aos pássaros, à neve, aos campos de cereais...

E, também, de um espírito meditativo – aberto à vida, à passagem das estações e à beleza do mundo em seu redor. 

No sintético e efémero que é este tipo de poema, Bashô consegue dar a complexidade do que é simples e aparentemente  ligeiro. Deixo alguns poemas que tirei do livro que estou a ler: "On love and barley" (Amor e Cevada).
                                                                              *
Os amigos separam-se
Para sempre – gansos selvagens
Perdidos nas nuvens.

(Friends part
Forever – wild geese
Lost in cloud.)
*
Luz da lua crescente
Flores de trigo-
Esta terra nublada.

(Crescent moon lights
Buckwheat flowers –
This hazy earth.)
*
Que agradável –
Uma vez só não ver
Fuji no meio do nevoeiro.

(How pleasant –
Just once not to see
Fuji through mist.)


Hocusai, Monte Fuji

Bashô morre em 28 de Novembro de 1694, em Osaka. Fundou uma escola de poesia e teve muitos seguidores.

(*) “On love and barley”, “Amor e cevada”, Penguin Books Classics, 1985, tradução e introdução de Lucien Stryk.
Ilustração da capa: “Papoilas” pormenor de um desenho num biombo, por volta de 1643 (período Edo), hoje no Museum of Fine Arts, Boston.


6 comentários:

  1. Gostei muito deste post e das imagens que escolheu:)

    Um beijinho e desejo-lhe um bom fim-de-semana:)

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  2. Uma lufada de ar fresco oriental, que sabe sempre bem. Guardei para mim o haiku dos amigos que se separam para sempre, quais gansos selvagens perdidos nas nuvens.

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  3. ~~~
    Apreciei muito a leitura.
    Os meus conhecimentos sobre esta cultura são muito limitados,
    apenas não esqueço a belíssima e incrível onda de Hocusai.

    ~~~ Beijinhos, MJ. ~~~

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    1. Devo dizer-lhe, Majo, que é uma literatura riquíssimaa! procure Kawabata, "Pays de Neige" que existe em português, ou A casa das Belas adormecidas e outros. Ou estes livrinhos de 'haikus'. Pintura extraordinária: Hocusai, Hiroshige e sei lá quantos. Tente ver na internet, é um prazer. bj

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  4. Por vezes um abraço oriental

    é uma transfusão de sangues

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  5. Maria João, muito interessante, esta "exposição" que aqui trouxe de Bashô.
    A beleza das coisas simples, mas profundas!
    Um beijinho saudoso.:))

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